(PROPOSTA DE REDAÇÃO)
Texto I
Excesso de positividade motiva a criação da sociedade do cansaço
Adriana Marino, doutora em Psicologia pela USP, explica as principais causas e consequências da exaustão e da falta de sono no mundo contemporâneo
Uma pesquisa realizada pelo Ibope demonstrou que 98% dos brasileiros se sentem cansados mental e fisicamente. A pesquisa, realizada em 2013, mostrou que os jovens de 20 a 29 anos representam a maior fatia dos exaustos. A tendência aparece em outros lugares. De acordo com o Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos, 43% dos trabalhadores do país dormem menos do que o período recomendado pela Fundação Nacional do Sono, ONG americana que promove a conscientização pública da importância do sono e dos distúrbios decorrentes
da falta dele.
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han se debruçou sobre o tema da exaustão e produziu o ensaio Sociedade do cansaço. Para Han, os malefícios da alma surgem de um excesso de positividade presente em todas as esferas da sociedade contemporânea. Nesses discursos, predominam as mensagens de ação produtiva e as ideias de que todas as metas são alcançáveis. O autor simboliza esse fenômeno a partir do slogan da campanha presidencial de Barack Obama em 2008: “Yes, we can” e do slogan da Nike, “Just do it”.
Adriana Marino, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, afirma que uma característica da sociedade do cansaço é a individualização dos problemas. Ela também acredita que a sociedade do cansaço em que vivemos se deve, em grande parte, à nossa imersão no mundo digital.
Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/excesso-de-positividade-motiva-a-criacao-da-sociedade-do-cansaco/
Texto II
Sociedade do cansaço é um livro curto – numa época de velocidade e esgotamento, trata-se de uma forma precisa de transmitir para o público leitor o aspecto tenebroso da valorização de indivíduos inquietos e hiperativos que se arrastam no cotidiano produtivo realizando múltiplas tarefas. Publicado originalmente em língua alemã, Sociedade do cansaço foi traduzido para o português em 2015 e ampliado na segunda edição em 2017 com dois textos anexos esclarecedores: “Sociedade do esgotamento” e “Tempo de celebração: a festa numa época sem celebração”.
No livro, o sul-coreano Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim, parte de uma constatação relativamente comum para o problema das relações entre sociedade e sofrimento psíquico: cada época tem suas enfermidades 1 . Dado que os sofrimentos psíquicos são compreendidos nos dias atuais sobretudo como desvios neuroquímicos, para o autor do livro em tela nossa época se configura como uma “violência neuronal”. Não obstante a expressão, sua explicação passa ao largo de aspectos fisiológicos do sistema nervoso: sofrimentos psíquicos como síndrome de burnout , transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e depressão são apreendidos pelo autor em sua relação direta com o modo operatório do capitalismo contemporâneo.
De saída, Byung-Chul Han sustenta que as sociedades ocidentais não são mais designadas pela negatividade típica de épocas e dispositivos “imunológicos”, cujos mecanismos de defesa são a reação, o estranhamento e o isolamento do estranho como formas de proteção. Para além da negatividade das sociedades disciplinares – em que semelhantes dispositivos operam por meio de muros, passagens e barreiras e nas quais o princípio de interdição torna possível o modelo freudiano da neurose enquanto conflito intrapsíquico –, a sociedade contemporânea distingue-se pelo excesso de positividade . Em seu aspecto biológico e social, a violência neuronal a que se refere o autor não está mais associada à negatividade estranha (exterior) ao sistema: trata-se de uma violência imanente ao próprio sistema (p. 20). Em sua forma especificamente social, a nomeação adequada do sistema é “sociedade do desempenho”. É dessa maneira que o sul-coreano designa o modo de funcionamento da sociedade ocidental contemporânea pós-disciplinar, já apreendida por outros autores como, por exemplo, “sociedade pós-industrial” (Bell, 1999), “sociedade de controle” (Deleuze, 1992), “capitalismo cognitivo” ou “economia material” (Negri e Lazzarato, 2001; Gorz, 2005) e “biopolítica” (Foucault, 2008) 2 . A despeito do matiz analítico diverso de cada uma das expressões conceituais, todas indicam a constituição de uma nova subjetividade proveniente das
transformações sócio-históricas ocorridas desde o final do último século.
Yes, we can – o slogan utilizado pelo presidente estadunidense Barack Obama – expressa com precisão o excesso de positividade da sociedade do desempenho (p. 24). No lugar do enunciado disciplinar coercitivo (“tu deves”), imposto de fora, entra em cena o novo enunciado (“nós podemos”), o qual, em seu aspecto imanente, remete a uma falsa liberdade ao impor aos indivíduos o imperativo da realização, da mobilidade, da velocidade e da superação constantes. O aspecto central da análise do coreano reside justamente na falsa liberdade e no processo destrutivo contido nesta transformação contemporânea. O filme Cisne negro , de Aronofsky (2010), pode evidenciar sua tese. Neste thriller psicológico, a imposição da performance e do desempenho mediante a autossuperação é incorporada pela protagonista e levada a suas últimas consequências. A autodestruição da bailarina – que figura aqui apenas como metáfora do desempenho profissional contemporâneo – nada mais é senão a perseguição obstinada do enunciado “tu podes”. Em que pesem os efeitos destrutivos, o filme parece ratificar a constatação de Byung-Chul Han de que “[a] positividade do poder é mais eficiente que a negatividade do dever” (p. 25). Ou seja, a autossuperação postulada em yes, we can é capaz de extrair toda a potência e eficácia insuspeitas ao próprio sujeito, ainda que o custo da autossuperação possa ser a autossupressão.
[...]
Disponível em: https://www.scielo.br/j/ts/a/6vbqVgYtLDWCCSsvszXZVVp/?lang=pt
Texto III

https://medium.com/ninguemconheceninguem/a-sociedade-do-cansa%C3%A7o-e-das-doen%C3%A7as-neuronais-b4ecd53ee00b
Com base nos textos de apoio, nos texto da prova e em seus conhecimentos gerais, construa um texto dissertativo-argumentativo, em terceira pessoa, de 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas, sobre o tema:
“Excesso de positividade como propulsor da sociedade do cansaço”
OBSERVAÇÕES:
1. Aborde o tema sem se restringir a casos particulares ou específicos ou a uma determinada pessoa.
2. Formule uma opinião sobre o assunto e apresente argumentos que defendam seu ponto de vista, sem transcrever literalmente trechos dos textos de apoio.
3. Não se esqueça de atribuir um título ao texto.
4. A redação será considerada inválida (grau zero) nos seguintes casos:
– texto com qualquer marca que possa identificar o candidato;
– modalidade diferente da dissertativa;
– insuficiência vocabular, excesso de oralidade e/ou graves erros gramaticais;
– constituída de frases soltas, sem o emprego adequado de elementos coesivos;
– fuga do tema proposto;
– texto ilegível;
– em forma de poema ou outra que não em prosa;
– linguagem incompreensível ou vulgar;
– texto em branco ou com menos de 17 (dezessete) ou mais de 38 (trinta e oito) linhas; e
- uso de lápis ou caneta de tinta diferente da cor azul ou preta.
5. Se sua redação tiver entre 17 (dezessete) e 24 (vinte e quatro) linhas, inclusive, ou entre 31 (trinta e uma) e 38 (trinta e oito) linhas, também inclusive, sua nota será diminuída, mas não implicará grau zero.