Meu tataravô era africano é um romance que conta a história de Inácio - um menino que aprende na escola sobre a escravidão no Brasil. Preocupado com a possibilidade de seus familiares terem sido escravos, ele quer ouvir de seu avô essa história.
Inácio entrou em casa correndo, procurando seu avô:
Mãe, mãe, cadê o vovô? Preciso muito falar com ele.
Calma, menino! Seu avô foi comprar pão.
Então ele vai demorar muito! Ele fica conversando com todo mundo na rua, e eu tenho que perguntar umas coisas pra ele. É um trabalho de escola.
E seu avô vai saber responder?
Acho que vai, é um trabalho sobre os escravos, e minha professora disse que os negros vieram da África e que, antigamente, todos os negros eram escravos. Então, se vovô é negro, ele veio da África e era escravo.
Não, querido. Nem todos os negros vieram da África ou foram escravos. Seu avô nasceu aqui no Brasil e nunca foi escravo.
Nunca? Mas a minha professora disse que…
Quem veio da África e era escravo foi o bisavô do seu avô.
Na fazenda de café
Vô, tenho um amigo lá na escola que em todas as férias viaja para a fazenda da tia dele, que fica em São Paulo. Eu queria tanto conhecer uma fazenda! Deve ser muito bom acordar cedinho e tirar leite das vacas, não é?
Sabe, Inácio, antigamente eu vivia dizendo que se ganhasse na loteria compraria um sítio. Agora, não tenho mais esperanças de ganhar, não.
Mas, vô, você joga na loteria?
Já joguei, agora não jogo mais. Acho uma bobagem, não ganho mesmo.
Vô, mas eu não queria conhecer uma fazenda do mesmo jeito que meu tataravô conheceu, não.
Minha professora contou que era muito triste a vida nas fazendas de café, a começar pela viagem, pois os escravos viajavam dias e dias a pé, e lá eram obrigados a trabalhar muito.
poxa, Inácio, como você é inteligente! Consegue guardar tudo nessa cabecinha. Na minha idade, não consigo aprender mais nada.
Que é isso, vô? Tem um monte de gente da sua idade que ainda estuda, sabia? Por que você não volta a estudar?
Ah, Inácio, acho que não dou mais pra isso, não. Não tenho mais paciência pra esse negócio de escola.
Então, vô, você pode estudar comigo, que tal? Tudo o que minha professora de História me ensinar eu ensino pra você, combinada?
MARTINS, Georgina; TELLES, Teresa Sila. Meu tataravô era africano. São Paulo: Editora DCL, 2008. p 29-30;46-47.
No texto, Inácio insiste em explicar como sabe as coisas: “minha professora disse", “minha professora contou”, “tudo o que minha professora me ensinar”. Ao falar tanto na professora, o menino demonstra que