Mal secreto (Raimundo Correia)
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse;
Quanta gente que ri, talvez, consigo,
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
Vocabulário:
Pungir: ferir; torturar.
Atroz: desumano, cruel.
Recôndito: escondido; desconhecido.
Chaga: ferida aberta.
Na terceira estrofe, o poema aponta uma idéia contraditória: há pessoas que riem, mas têm dentro de si escondido um inimigo atroz. Esse inimigo é comparado