Leia atentamente o trecho a seguir, retirado do poema “Crepúsculo do mar” de Álvares de Azevedo, a fim de responder à próxima questão.
No céu brilhante do poente em fogo
Com auréola ardente o sol dormia,
Do mar doirado nas vermelhas ondas
Purpúreo se escondia.
Como da noite o bafo sobre as águas
Que o reflexo da tarde incendiava,
Só a ideia de Deus e do infinito
No oceano boiava!
Como é doce viver nas longas praias
Nestas ondas e sol e ventania!
Como ao triste cismar encanto aéreo
Nas sombras preludia!
O painel luminoso do horizonte
Como as cândidas sombras alumia
Dos fantasmas de amor que nós amamos
Na ventura de um dia!
Como voltam gemendo e nebulosas,
Brancas as roupas, desmaiado o seio,
Inda uma vez a murmurar nos sonhos
As palavras do enleio!...
Aqui nas praias, onde o mar rebenta
E a escuma no morrer os seios rola,
Virei sentar-me no silêncio puro
Que o meu peito consola!
Sonharei... lá enquanto, no crepúsculo,
Como um globo de fogo o sol se abisma
E o céu lampeja no clarão medonho
De negro cataclisma...
Enquanto a ventania se levanta
E no ocidente o arrebol se ateia
No cinábrio* do empíreo derramando
A nuvem que roxeia...
Hora solene das ideias santas
Que embala o sonhador nas fantasias,
Quando a taça do amor embebe os lábios
Do anjo das utopias! (...)
*cinábrio = o mesmo que cinabre: sulfeto vermelho de mercúrio.
AZEVEDO, Álvares. Lira dos Vinte Anos. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/h7sdzakf. Acesso em: 03 jun. 2021.
O texto está organizado em torno da relação amor/divino. Nesse sentido, pode-se afirmar que o eu lírico