Questão
Academia da Força Aérea - AFA
2001
FITA-VERDE-CABELO-Nova5607c879f11
FITA VERDE NO CABELO

(Nova velha estória)

Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo. 

Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.

Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. Então, ela, mesma, era quem se dizia: — "Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou". A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são.

E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeiínhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. Vinha sobejadamente.

Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu:

—"Quem é?"

— "Sou eu..." — e Fita-Verde descansou a voz. — "Sou sua linda netinha, com cesto e pote, com a fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou."

Vai, a avó, difícil, disse: — "Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus te abençoe." 

Fita-Verde assim fez, e entrou e olhou.

A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar agagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. Dizendo: — "Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo."

Mas agora Fita-Verde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou: 

— "Vovozinha, que braços tão magros, os seus, e que mãos tão trementes!"

— "É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta..."

— a avó murmurou.

— "Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados!"

— "É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta..." — a avó suspirou.

— "Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido?'

— É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha..."

— a avó ainda gemeu.

Fita-Verde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez

Gritou: — "Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!"

Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo.

Guimarães Rosa

Leia o período abaixo.

Fita-Verde resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso.

Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.

Assinale a alternativa em que as idéias acima estão organizadas num só período coerente e coeso e expressam relação de causa e conseqüência.
A
Assim que Fita-Verde resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso, encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.
B
Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores, posto que resolvesse tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso.
C
Ainda que Fita-Verde resolvesse tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro encurtoso, encontraria borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.
D
Na medida em que resolveu tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso, Fita-Verde encontrou borboletas, avelãs e plebeiínhas flores.