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2022
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Direito à leitura: comida no prato e livro na mão

A imagem da Bienal que circulou nas redes sociais me pareceu emblemática dos tempos em que vivemos aqui no Brasil

As portas se abriram e o que a imagem que viralizou nas redes sociais mostrava parecia a entrada de um estádio de futebol ou de um show de um roqueiro famoso... só que não! Era “a largada” para a abertura da 26ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, quando milhares de pessoas entraram correndo no pavilhão da Expo Center Norte, quebrando o “jejum” de quatro anos sem o evento. Até o fechamento das portas deste que é um dos maiores acontecimentos literários do Brasil, espera-se que mais de 600 mil visitantes tenham andado pelos corredores lotados de obras, pego os autógrafos de seus escritores prediletos, tirado selfies com a capa de um livro que poderia ser “o seu”, interagido com um trem de uma das histórias de mistério mais famosas do mundo, “conhecido” Portugal e seus monumentos mais icônicos bem como seus autores mais famosos e, é claro, enchido as sacolas com livros e mais livros. Em que pese os resultados mais recentes, as vendas de livros só caem - entre 2014 e 2021, as vendas reais das editoras ao mercado encolheram 37%, resultado da crise econômica que não tem data para acabar - as editoras esperam que o evento não apenas alavanque o comércio de livros, mas, sobretudo, traga à tona o quanto eles são importantes para ajudar os leitores a atravessarem esse momento turbulento com informações que os ajudem a tomar decisões mais éticas e sustentáveis, e trazer esperança de dias melhores.

Como diz o professor e crítico literário Harold Bloom, em sua obra “Como e por que ler”, a literatura prepara e promove as transformações que a sociedade necessita. Antes de serem concretas, elas estão idealizadas e depois descritas nas páginas de um livro: “Uma das funções da leitura é nos preparar para uma transformação, e a transformação final tem caráter universal (...). Lemos não apenas porque, na vida real, jamais conheceremos tantas pessoas como através da leitura, mas, também, porque as amizades são frágeis... (...) a literatura alivia a solidão”. As produções humanas acontecem por meio de textos, sejam eles orais, escritos, traçados, pintados, gesticulados, em um texto encontramos a “textura”, o “tecido”, a “tecelagem”, a “trama” e também o “tricô”. Precisamos, portanto, dos textos, das histórias, para nos contar e à nossa trajetória como humanidade. Como diz de modo extremamente poético e profundo a especialista em literatura infantojuvenil espanhola Silvia García Esteban em seu artigo intitulado “A literatura juvenil: uma etiqueta forçada”: “(...) Lemos para compreender o mundo que nos rodeia, para nos refugiarmos da solidão, para vivermos outras vidas, para nos protegermos da realidade que nos machuca, para combater o medo ou os pesadelos, para ter esperança quando estamos exaustos, para nos emocionarmos, para nos indignarmos, para nos rebelarmos. Podemos pensar em muitas causas de leitura como seres humanos que leem em nosso planeta, porque um leitor nasce de uma necessidade que estará intimamente ligada à história desse sujeito (...). Ser leitor não consiste apenas em ler muito, é tornar-se um intérprete da realidade, (...) é aceitar um pacto fictício e dar-lhe consistência para nele habitar”. Daí que, em tempos sombrios como esses que vivemos, a literatura ser também um alimento tão necessário quanto o pão.

Esse foi o mote de um movimento que ganhou mundo nessa semana tão emblemática para o livro brasileiro: “Comida no prato e livro na mão! 10 propostas pela defesa do livro e ao direito à leitura no Brasil”, uma carta aberta em defesa do livro e da literatura e também um abaixo-assinado, uma iniciativa da coordenadora de projetos do IBEAC (Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário Queiroz Filho) e gestora da Rede de Leitura LiteraSampa, Bel Santos Meier, e da escritora e consultora do Núcleo de Enfrentamento, Monitoramento e Memória de Combate à Violência da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo), Juliana Borges, reunindo escritores/as, editores/as, livreiros/as, bibliotecários/as, produtores/as e incentivadores/as do livro e da leitura nas plataformas digitais, professores/as e mediadores/as de leitura, dentre outros atores da cadeia do livro. O documento apresenta “dez pontos que consideram sintetizar o acúmulo de ideias formuladas por profissionais e ativistas para o conjunto da sociedade, tanto aos/às que pleiteiam cargos e representação pública, quanto ao empresariado nacional”. A meta era conseguir 5.000 assinaturas e em dois dias de circulação essa meta já foi alcançada e segue crescendo, recebendo apoio de dezenas de organizações da sociedade, de políticos, empresários, além, é claro, de centenas de profissionais da indústria do livro brasileiro, grupo ao qual tenho a honra de pertencer. O objetivo é garantir que as políticas públicas de apoio à literatura sejam prioridade no governo que tomará posse no ano que vem. “Para nós, seguindo formulação do mestre Antonio Candido, a efabulação é uma capacidade humana ampla e irrestrita, que deve ser valorizada e cultivada em todas as sociedades. Nesse sentido, as tentativas despolitizadoras de excluir o livro da relação de necessidades básicas humanas explicitam o descompasso e a falta total de compromisso com a dignidade e a disseminação de conhecimento em nossa sociedade. Se, por um lado, a vida demanda a urgência da comida no prato; por outro, a utopia e a plena experiência de vida demandam a emergência do livro na mão”, enfatiza o abaixo-assinado.

(Disponível em: nexojornal.com.br. Fragmento.)

Leia o trecho a seguir e assinale, em seguida, a alternativa com análise incorreta dele.

“(...) Lemos para compreender o mundo que nos rodeia, para nos refugiarmos da solidão, para vivermos outras vidas, para nos protegermos da realidade que nos machuca, para combater o medo ou os pesadelos, para ter esperança quando estamos exaustos, para nos emocionarmos, para nos indignarmos, para nos rebelarmos.”
A
A troca do conectivo “quando” pelo “enquanto”, no trecho acima, causaria modificações com relação à significação.
B
O uso da oração “que nos machuca” permite a compreensão de que a realidade nem sempre é um elemento positivo.
C
O uso do infinitivo conjugado, nas orações introduzidas pelo “para”, é considerado facultativo pela norma culta.
D
O primeiro elemento “que” encontrado no trecho é um pronome relativo com função de sujeito.
E
A oração “para nos rebelarmos” é classificada como uma adverbial final desenvolvida, dado ter o verbo conjugado.