Questão
Colégio Naval - CN
2019
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Correndo risco de vida

Em uma de suas histórias geniais, Monteiro Lobato nos apresenta o reformador da natureza, Américo Pisca Pisca. Questionando o perfeito equilíbrio do mundo natural, Américo Pisca-Pisca apontava um desequilíbrio flagrante no fato de uma enorme árvore, como a jabuticabeira, sustentar frutos tão pequeninos, enquanto a colossal abóbora é sustentada pelo caule fino de uma planta rasteira. Satisfeito com sua grande descoberta, Américo deita-se sob a sombra de uma das jabuticabeiras e adormece. La pelas tantas, uma frutinha Ihe cai bem na ponta do seu nariz. Aturdido, o reformador se da conta de sua logica. 

Se os reformadores da natureza, como Américo Pisca-Pisca, ja caíram no ridículo, os reformadores da língua ainda gozam de muito prestigio. Durante muito tempo era possível usar a expressão “fulano não corre mais risco de vida". Qualquer falante normal decodificava a expresso “risco de vida" como “ter a vida em risco”, E tudo ia muito bem, até que um desses reformadores da língua sentenciou, do alto da sua vã inteligência: “nado é risco de vida, é risco de morte”. Quer dizer que so ele teve essa brilhante percepção, todos os outros falantes da língua não passavam de obtusos irrecuperáveis. E o tipo de sujeito que acredita ter inventado a roda. E impressiona a fortuna critica de tal asneira. Desde então, todos os jornais propalam “o grande líder sicrano ainda corre o risco de morte”. E me desculpem, mas risco de morte é muito pernóstico. 

Assim como o reformador da natureza não entende nada da dinâmica do mundo natural, esses gramáticos que pretendem reformar o uso linguístico invocando sua pretensa racionalidade não percebem coisa alguma da lógica de funcionamento da língua. Como bem ensinou Saussure, fundador linguística moderna, tudo na língua é convenção. A expressão “risco de vida", estava consagrada pelo uso e não se criava problemas na comunicação, porque nenhum falante, ao ouvir tal expressão, pensava que o sujeito corra risco de viver. 

A relação entre as formas linguísticas e o seu conteúdo é arbitraria e convencionada socialmente. Em Japonês, por exemplo, o objeto precede o verbo. Diz-se “João o bolo comeu” em vez de “João comeu o bolo”, como em português. Se o nosso reformador da língua baixasse por 1a, tentaria convencer os japoneses de que o verbo preceder o seu objeto é muito mais lógico! 

Mas os ingénuos poderiam argumentar: O nosso oráculo gramatical não melhorou a língua tornando-a mais logica? Não, meus caros, ele a empobreceu. Pois, ao lado da expressão mais trivial “correr o risco de cair do cavalo’, a língua tem uma expresso mais sofisticada: correr risco de vida. Tal construção dissonante amplia as possibilidades expressivas da língua, criando um veio que pode vir a ser explorado por poetas e demais criadores da língua. “Corrigir’ risco de vida por risco de morte é substituir uma expressão mais sutil e sofisticada por sua versão mais imediata, trivial e obvia. E um recurso expressivo passou a correr risco de vida pela ação nefanda dos fariseus no templo democrático da figura.

Assinale a opção que demonstra a reescrita do período “Como bem ensinou Saussure, fundador da linguística moderna, tudo na 'língua é convenção.” (§3°), sem que haja qualquer alterado de valor semântico.
A
“Segundo Saussure, fundador linguística moderna, tudo na língua é convenção”.
B
‘Tal qual Saussure, fundador da linguística moderna, tudo na língua é convenção”.
C
“Conquanto ‘Saussure, fundador da moderna, tudo na língua é convenção”.
D
“Ao passo que Saussure, fundador da linguística moderna, tudo na língua é convenção”.
E
“Não obstante Saussure, fundador da_ linguística moderna, tudo na língua é convenção”.