Anjo:— Eu não sei quem te cá traz...
Brízida —Peço-vo-lo de giolhos!
Cuidais que trago piolhos,
anjo de Deos, minha rosa?
Eu sô aquela preciosa
que dava as moças a molhos,
a que criava as meninas
para os cônegos da Sé...
Passai-me, por vossa fé,
meu amor, minhas boninas,
olho de perninhas finas!
E eu som apostolada,
angelada e martelada,
e fiz cousas mui divinas.
Santa Úrsula nom converteu
tantas cachopas como eu:
todas salvas polo meu
que nenhuma se perdeu.
E prouve Àquele do Céu
que todas acharam dono.
Cuidais que dormia eu sono?
Nem ponto se me perdeu!
Anjo — Ora vai lá embarcar, não estás importunando.
Brízida — Pois estou-vos eu contando o porque me haveis de levar.
VICENTE, Gil. Auto da barca do inferno. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/2p9bujyf. Acesso em: 22 jul. 2022
Entre as estratégia argumentativas da alcoviteira está: