Questão
Simulado EEAR
2024
31390df5b7
Texto I:

Vivemos numa cultura grafocêntrica, isto é, numa cultura em que a escrita exerce um papel central na vida diária das pessoas. Mesmo as analfabetas estão imersas nessa cultura, porque têm de pegar ônibus, fazer compras, lidar com dinheiro, cartão de banco, documentos, boletos, embalagens, ícones do telefone celular etc. A escrita está presente na vida delas o tempo todo, tanto quanto na das pessoas alfabetizadas. Aliás, justamente por isso, as especialistas no tema dizem que existem pessoas analfabetas, sim, mas não pessoas iletradas, já que todas têm de aprender a interagir a todo momento (com maior ou menor desenvoltura) com a letra, ou seja, com a escrita. Nós também nos movemos no interior daquilo que se chama paisagem linguística. Por onde andamos, no meio urbano e também fora dele (dentro de um avião, por exemplo), estamos rodeadas de cartazes, letreiros de lojas, sinalização de trânsito, painéis de elevadores, publicidade colada nos postes, instruções escritas no asfalto, numeração das casas, folheto de cartomante, placas com nomes de ruas, inscrições em veículos etc. A paisagem linguística é objeto de conflitos em sociedades plurilíngues, onde os grupos de falantes de línguas minorizadas lutam para que todo esse universo de escrita também esteja grafado em sua língua não hegemônica. No Canadá, por exemplo, tudo o que chega às mãos da população tem de vir, obrigatoriamente, por lei, escrito em inglês e francês, assim como, na Bélgica, em neerlandês e francês. Na Finlândia (eu estive lá e descobri), a paisagem linguística se desdobra em finlandês e em sueco (ainda que o sueco seja falado por apenas 5% da população). Em alguns países que não usam o alfabeto latino, como o Japão, a China e países árabes, a paisagem linguística se estampa cada vez mais na língua local e em inglês. Esse impacto da escrita na nossa vida em sociedade é tamanho que para muitas pessoas é difícil pensar em “língua” sem pensar imediatamente em “escrita”, quando não acham que são sinônimos! Mas não são.
Para essa enganosa sinonímia contribui muito o processo de escolarização. Mesmo sendo precário e quase indigente no Brasil, o ensino institucionalizado de língua se faz, evidentemente, por meio da escrita e da leitura do que está escrito. Isso explica, por exemplo, por que a grande maioria do que se chama “erro de português” é, na verdade, mero erro de ortografia:

“Credo, o e-mail de fulano está cheio de erros de português”.

(Disponível em: https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/ortografia-nao-e-lingua-1)

Ao descrever ações cotidianas dos indivíduos, o autor
A
propõe uma reflexão sobre a mudança de hábitos.
B
estabelece uma crítica à efemeridade do tempo. 
C
reforça a sua tese de que os indivíduos estão imersos nessa cultura de escrita.
D
explora o fato de a cultura da fala influenciar em atividades mais simples.