Questão
Simulado EPCAR
2024
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Texto I:

Até as abelhas aprendem com os mais velhos

Ando pensando nas consequências da longevidade desde que descobri que ela, por sua vez, acompanha simplesmente o número de neurônios no córtex cerebral. Não é mais preciso apelar para seleção natural para explicar a "evolução da longevidade": o que quer que seja que aumenta o número desses neurônios entre espécies também vem com uma vida mais longa.

Também não é preciso vida longa, ou muitos neurônios, para vingar nesse planeta. Camundongos têm um milésimo do nosso número de neurônios corticais, e vivem apenas um quadragésimo da nossa vida. Ainda assim, vão muito bem, obrigada: não é preciso nem muitos neurônios, nem vida longa para ter sucesso na vida, se "sucesso" for definido simplesmente como deixar descendentes. Bactérias, por esse critério, são as campeãs de sucesso, sem um único neuroniozinho.

Não que ter neurônios a mais e vida mais longa não tenha suas vantagens. Uma delas é a possibilidade de conviver com gerações anteriores —ou, pelo menos, indivíduos um pouquinho mais velhos, o suficiente para já terem aprendido na prática e terem o que demonstrar para os mais novos. Funciona em tribos e comunidades humanas pré-industriais, que vêm ensinando aos antropólogos que não são as avós pós-menopausa que ensinam know-how às crianças, não: são as outras crianças maiores, mesmo (e antes que os e-mails de avós furiosas inundem minha caixa postal e minha mãe me puxe as orelhas, eu acrescento: com as avós [e avôs também, para que meu pai não me xingue e os avôs de plantão não se exaltem], as crianças aprendem aquilo que precisa ser contado para ser transmitido).

Até para as abelhas e mangavas o convívio com aqueles um pouquinho mais velhos, que já têm algo a ensinar, é importante para o aprendizado, como demonstraram dois estudos recentes. Num, da Academia de Ciências da China, os pesquisadores finalmente criaram colmeias inteiras de abelhas "analfabetas" em dança. Digo "finalmente" porque segundo a lenda, a dança das abelhas, que indica a localização de flores carregadas de pólen, seria inata: algo que as abelhas nascem sabendo fazer. De fato, até abelhas "analfabetas" dançam, ao voltar para a colmeia (o que para mim pode ser uma dancinha feliz de comemoração, inata, de fato). Só que dançam mal, cheias de erros de direção e distância —mas boa parte do problema se resolve criando novas colmeias com umas poucas operárias mais velhas, boas de dança.

No outro, da Universidade Queen Mary, de Londres, Lars Chittka continuou botando suas mangavas à prova, e demonstrou que elas não só aprendem por imitação a empurrar um pino azul ou vermelho para ganhar acesso à comida, como formam preferência pelo método ensinado —mesmo que depois descubram que o outro pino também funciona.

Os neurônios são poucos e a vida das mangavas é curtíssima, então tudo se aprende de novo de um ano para o outro. Mas abelhas de idades diferentes coexistem, como crianças humanas, e as mais velhas demonstram às mais novas como dançar direito.

Suzana Herculano-Houzel

(Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/suzanaherculanohouzel/2023/05/ate-as-abelhas-aprendem-com-os-mais-velhos.shtml) 

Texto II:

Páscoa

Velhice é um modo de sentir frio que me assalta
e uma certa acidez.
O modo de um cachorro enrodilhar-se
quando a casa se apaga e as pessoas se deitam.
Divido o dia em três partes:
a primeira pra olhar retratos.
A segunda pra olhar espelhos,
a última e maior delas, pra chorar.
Eu, que fui louca e lírica,
 não estou pictural.
Peço a Deus,
em socorro da minha fraqueza,
abrevie esses dias e me conceda um rosto
de velha mãe cansada, de avó boa,
não me importo. Aspiro mesmo
com impaciência e dor.
Porque sempre há quem diga
no meio da minha alegria:
“põe o agasalho”
 “tens coragem?”
“por que não vais de óculos?”
Mesmo rosa sequíssima e seu perfume de pó,
quero o que desse modo é doce,
o que de mim diga: assim é.
Pra eu parar de temer e posar pra um retrato,
ganhar uma poesia em pergaminho.

PRADO, Adélia. Páscoa. Bagagem. Disponível em: <http:// wp.clicrbs.com.br/mardeideias/2013/12/13/pascoa-adelia-prado/ ?topo=87,1,1,,,87>

Texto III:

Os 'superidosos' com memória melhor que pessoas 30 anos mais jovens
Cientistas americanos acreditam que podem estar perto de responder por que existem idosos que mantêm raras capacidades cognitivas em comparação com pessoas 30 anos mais jovens.

Essa elite de "superidosos" tem células nervosas maiores em regiões do cérebro responsáveis pela memória, segundo indica uma nova pesquisa publicada no The Journal of Neuroscience.

Os octogenários podem ter nascido com essas células ou seus neurônios podem ter crescido mais, ou encolhido menos, que os de outras pessoas com o passar da idade.
Mais estudos são necessários e poderão ajudar a encontrar novas formas de combater a demência.

Os pesquisadores querem determinar particularmente como as mudanças nas células nervosas podem afetar a saúde cerebral de longo prazo. Será que elas oferecem proteção na idade avançada ou são simplesmente um reflexo da melhor saúde do cérebro?

O Programa de Pesquisa do Superenvelhecimento da Northwestern University em Illinois, nos Estados Unidos, existe há mais de uma década. Seu principal objetivo é descobrir o que mantém o cérebro cognitivamente ativo e o que protege as pessoas da demência.

Os participantes devem ter mais de 80 anos de idade, ter excelente memória, estar dispostos a passar por vários exames e verificações e concordar em doar seu cérebro para pesquisas médicas após a morte.

Baseados em trabalhos anteriores usando imagens de ressonância magnética, os pesquisadores já concluíram que os cérebros dos chamados superidosos têm aparência e funcionamento similar aos de pessoas com 50 anos de idade, e não de 80 anos.
A pesquisa mais recente — com base em exames realizados após a morte — concentra-se em uma região do cérebro conhecida como córtex entorrinal, que está relacionada à memória.

Os pesquisadores estudaram os cérebros de seis superidosos, sete octogenários com "cognição mediana", cinco pessoas com Alzheimer em estágio inicial e seis doadores mais jovens que morreram de doenças não relacionadas ao cérebro.

Eles concluíram que os superidosos tinham neurônios maiores e mais saudáveis naquela região do cérebro do que os demais. E, aparentemente, os superidosos têm menos propensão a acumular depósitos anormais de proteínas, conhecidos como placas, tipicamente observados nos cérebros de pacientes com Alzheimer.

(Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63167068) 

Texto IV:



Os textos acima assumem perspectivas diferentes para abordar a fase da velhice, assinale a afirmação incorreta acerca da interpretação apresentada por eles:
A
Os textos I e II possuem caráter mais informativo, trazendo novas perspectivas sobre essa fase da vida e evidenciando que, com a evolução da tecnologia, novas descobertas podem ser realizadas, modificando a maneira como se vive a velhice. 
B
O texto III, por possui linguagem poética, é incompreensível no que deseja mencionar, pois a interpretação depende de aspectos subjetivos, sendo impossível identificar se a visão do eu lírico sobre a velhice é positiva ou negativa.
C
O texto IV produz uma crítica sobre como a sociedade relaciona o corpo idoso como um corpo esteticamente descuidado, o que não necessariamente é verdade atualmente. 
D
Os textos desta prova provocam diferentes interpretações sobre a velhice, favorecendo a ideia de que não existe apenas um modo de envelhecer hoje, pelo contrário, é possível envelhecer e ter boa memória, envelhecer e gostar deste processo, envelhecer de formas diferentes.