Guerra do Contestado: saiba mais sobre o movimento social da República Velha

Guerra do Contestado: saiba mais sobre o movimento social da República Velha

Você sabia que já ocorreu uma guerra civil no período republicano do Brasil? O dia 05 de abril é marcado pelo fim da Guerra do Contestado, conflito que marcou a história da região Sul do país. O Estratégia Militares preparou esse artigo para você conhecer mais sobre o que ocorreu.

Uma das questões mais importantes da Primeira República no Brasil foi a eclosão de vários movimentos sociais, tanto no campo quanto na cidade.

Reflexos de uma estrutura social caracterizada pela concentração de renda e pela injustiça, os movimentos que aconteceram neste período desafiaram as autoridades, deixando claro que os grupos sociais brasileiros não poderiam ser reconhecidos pela passividade e pelo conformismo.

Muito pelo contrário, o dinamismo dos movimentos – vazios nos seus projetos ideológicos, mas dispostos a se oporem à ordem estabelecida – foi um indício claro da dinâmica social da República Velha.

Onde ocorreu a Guerra do Contestado?

A Guerra do Contestado ocorreu na região Sul do Brasil, entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Como essa área era disputada pelos dois estados da federação, o episódio levou o nome de Contestado, apesar de os conflitos não envolverem questões de limites regionais e sim, sociais.

Como foi a Guerra do Contestado?

A Guerra do Contestado iniciou-se em 1911. Estava associada à condição de pobreza da população rural, que teve suas terras tomadas no projeto de construção de uma ferrovia por parte de uma empresa inglesa, a Brazil Railway Company

O governo brasileiro permitiu, além da construção da linha férrea, a exploração de madeira na região por onde passaria a ferrovia. Sendo assim, ali foi criada a maior madeireira do mundo no período, responsável por um considerável desmatamento no local.

A guerra teve como pano de fundo a transformação econômica e social da região no início do século XX. Como em quase todo o Brasil, a região do Contestado era dominada, no final do século XIX, pelos coronéis e grandes proprietários. Neste caso, eles eram produtores de erva-mate.

Trem destruído na Guerra do Contestado
Divulgação: Wikicommons

O líder da Guerra do Contestado

Como curandeiro e líder religioso, Miguel Lucena de Boaventura, conhecido como José Maria e como o “monge”, atraía multidões. Nas terras cedidas pelo coronel Henriquinho de Almeida, ele organizou comunidades de crentes que gostavam de ouvir suas falas, onde eram valorizadas a monarquia e a cavalaria.

As monarquias celestes

Diferentemente de Canudos, onde os sertanejos ficavam concentrados em um arraial, a luta em Contestado foi mais complexa. Tudo isso devido à dispersão dos seguidores do movimento por todo território, fundando as chamadas “monarquias celestes”.

O nome dado aos núcleos de protesto tinham como motivo a simpatia ao antigo governo imperial, que havia sido afastado do poder no golpe republicano de 1889. 

Essa postura de defesa da monarquia se manifestava por meio da mística do sebastianismo presente no movimento. Ela levava os participantes a pregarem a volta do rei português Dom Sebastião, desaparecido no norte da África em 1578, durante um combate contra os muçulmanos.

A aproximação de José Maria e Henriquinho de Almeida não foi bem vista pelo coronel Francisco de Albuquerque, que temia o crescimento do poder de influência do rival. Isso o levou a conseguir o apoio da polícia de Santa Catarina para expulsar o “monge” e seus seguidores.

Temendo a luta armada, José Maria e seus religiosos transferiram-se para a cidade de Irani, no Paraná. Porém o governo paranaense interpretou a presença da comunidade como uma invasão catarinense, cujo o propósito seria a ocupação e futura anexação do local pela província de Santa Catarina. 

Tropas militares na Guerra do Contestado
Divulgação: Wikicommons

Essa interpretação foi utilizada como respaldo do governo paranaense para enviar um destacamento policial para expulsá-los.

As forças policiais ordenaram a rendição de José Maria, o qual solicitou um tempo para se organizar e sair da região. O comandante das forças repressivas não esperou. Na madrugada seguinte, ordenou um ataque no qual foram mortos José Maria e o coronel que comandava a repressão.

Os seguidores do “monge” voltaram para Santa Catarina, envolvidos num misticismo no qual acreditavam na ressurreição de seu líder, assim como os seguidores de D. Sebastião, em Portugal.

Em 1914, a guerra se espalhou e deu aos religiosos de José Maria o controle de um vasto território na região do Contestado. A gravidade e a grandeza da situação foi demonstrada pela mobilização da quase totalidade dos efetivos do Exército Brasileiro para o local, tendo sido utilizado até aviões de combate.

Como foi encerrada a Guerra do Contestado?

A Guerra do Contestado só terminou em 1916, com 20 mil mortos pelas ações militares oficiais. Porém, as manifestações populares na região só foram totalmente sufocadas no ano de 1921, ficando conhecido como um dos eventos bélicos mais cruéis da história brasileira. Foram milhares de mortos, assim como na Guerra de Canudos, vitimando mulheres, idosos e crianças.

Cabe ressaltar que tanto a revolta de Canudos como a do Contestado foram movimentos messiânicos que simpatizavam ou se identificavam com a monarquia em meio à consolidação da República. Logo, o governo republicano esforçou-se na efetiva repressão a essas revoltas, procurando conferir um caráter político de rebelião aos movimentos sociais.

Para você lembrar

  • A Guerra do Contestado ocorreu na região Sul do Brasil, entre os estados de Santa Catarina e o Paraná;
  • Foi motivada pela construção da linha de trem pela companhia inglesa Brazil Railway Company;
  • Miguel Lucena de Boaventura, mais conhecido como José Maria foi o principal representante;
  • O movimento, juntamente com a Revolta de Canudos, possui caráter messiânico;
  • Hermes da Fonseca era o Presidente da República em exercício.

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